Um Olhar Sobre Nós

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Prontos para mais um final de ano mas não para essa conversa — Ou: Papo de refletir, tá?

Não, este não é mais um daqueles textos lugar-comum romantizando o passado e o idealizando na cara dura (apesar de parecer).

Anaximandro (610 a.C.), além de palpitar — e acertar — sobre como a Terra era e como se sustentava sozinha no espaço, antes mesmo de imaginarmos a Física como a conhecemos (eu também me assustei), dizia também que o presente, a grosso modo, era diferente do que entendemos hoje, depois de séculos de religiões e do calendário gregoriano: cronológico (passado, presente e futuro), simplório: só datas comemorativas.

Para Anaximandro, o “tempo” não é uma linha com passado, presente e futuro, mas o modo como as coisas emergem do indeterminado e retornam a ele.

Cada ente aparece quando chega sua “hora” — não do relógio, mas da necessidade (kata to chreón).

Aparecer é já entrar em des-equilíbrio; retornar é o restabelecimento da justiça e do ser.

O presente não é um instante cronológico, mas o próprio desvelar do ente no mundo.

E isso o torna sofisticado na medida em que, diferente de nós hoje, cercados por tecnologias e informações, o pensador se permitiu enxergar além do próprio condicionamento social, além das perspectivas de sua época.

Enquanto imaginamos “o fim de um ciclo” em dezembro e contamos dias e datas, o grego, dispondo apenas da própria imaginação, ousou ir tão além de seu tempo que precisamos citá-lo — 2.600 anos depois — e tentar compreender como a mente humana é capaz de ficar presa no futuro e se libertar no passado…

No nosso momento presente — ou no instante em que me “revelo”, como dizia Anaximandro — eu “apareço” também para desejar saúde e boas festas a todos!

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